EMDR: Terapia de Dessensibilização e Reprocessamento
Este texto é um resumo adaptado com passagens retiradas do livro “EMDR: Terapia de Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares”, de Francine Shapiro, 3ª ed., 2018.
A sigla EMDR significa Terapia de Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos
Movimentos Oculares.
Uma das premissas básicas do EMDR é que a maior parte das psicopatologias decorre das
experiências iniciais de vida. O objetivo desse tratamento é metabolizar, de forma rápida, o
resíduo disfuncional do passado e transformá-lo em algo útil.
Com o EMDR, a informação disfuncional oriunda do trauma sofre uma modificação
espontânea em sua forma e conteúdo, incorporando insights e afetos que acrescentam algo ao
cliente, ao invés de reforçar a autodepreciação. O sistema inato de processamento de
informações do cliente é chamado a agir para levar a cabo a resolução do problema que o
aflige.
Outros tipos de estímulos, além dos movimentos oculares, têm demonstrado serem
também efetivos no tratamento psicológico, como, por exemplo, a estimulação bilateral tátil e
auditiva.
A Organização Mundial de Saúde e a Sociedade Internacional para os Estudos do Estresse
Traumático, entre outras, têm dado ao EMDR o status de uma terapia padronizada,
empiricamente embasada e efetiva no tratamento do trauma psicológico.
O propósito da terapia EMDR é liberar o cliente de seu passado para um presente saudável
e produtivo. Atenção criteriosa é dada às imagens, crenças, emoções, sensações físicas,
aumento da consciência, estabilidade interna, resiliência e sistemas interpessoais, a fim de
transmutar experiências ruins em experiências de aprendizagem adaptativa.
Alguns traumas podem causar medo, culpa ou vergonha, e as respectivas sensações
corporais associadas. Podem produzir imagens intrusivas, insônia, pesadelos, pensamentos
ou crenças negativas que o cliente tenha a respeito de si mesmo, levando-o a evitar ações que
gostaria e poderia realizar com maior facilidade, como falar ou se apresentar em público,
andar de avião, de elevador, estabelecer novos relacionamentos, empreender novos projetos,
cuidar de sua saúde.
A terapia EMDR é usada para (1) ajudar o cliente a aprender com experiências negativas
do passado, (2) dessensibilizar gatilhos presentes, que perturbam a pessoa de forma
indevida e (3) incorporar modelos para ação futura, que permitam ao cliente realizar-se
individualmente e dentro de seu sistema interpessoal.
O uso da terapia EMDR tem se mostrado altamente eficaz em traumas graves, mas a
experiência mostra com clareza que experiências precoces perturbadoras, de todos os tipos,
podem ter efeitos negativos e duradouros semelhantes. Por exemplo, se permitirmos que
nossas mentes voltem à infância e tragam um incidente humilhante, muitos de nós
descobriremos que ainda sentimos o rubor da emoção ou seremos invadidos exatamente pelo
que pensávamos na ocasião, sentimos o nosso corpo estremecer.
De acordo com o modelo do EMDR, diríamos que tal evento foi processado de forma
inadequada, e isso afeta nossas percepções e ações do presente, quando semelhantes àquelas
vividas, de modo que provoca sensações, pensamentos e ações involuntárias, semelhantes ao
padrão daquelas experenciadas na época em que o evento ocorreu. Reagir com negatividade à
autoridade, aos grupos, às novas experiências, pode ter relação com as memórias que
carregamos do passado.
Quando a vivência de um evento é processada de forma adequada, lembramos dele, mas
não experimentamos as velhas emoções e sensações no presente. Somos orientados - em vez
de controlados - por nossas lembranças e temos mais escolhas em relação ao que esperar do
futuro.
Existem situações, quando a dor de uma vivência traumática foi forte demais para o
psiquismo da pessoa, em que ela dissocia para se proteger daquilo que não suporta lembrar,
reprime de tal forma, que nem ela percebe que as memórias seguem produzindo estragos. A
pressão, os efeitos daquelador associada à memória, nas suas crenças limitantes, seguem
interferindo, de modo automático,sem que ela se dê conta sozinha, e, assim, ela necessita de
ajuda terapêutica.
Uma pessoa pode ficar bloqueada na perspectiva da infância e perceber o presente de um
ponto de vista semelhante de desvantagem, falta de segurança ou falta de controle, só que a
realidade mudou desde quando os fatos traumáticos aconteceram e o cérebro da pessoa
traumatizada pode não ser capaz de perceber nem assimilar isso.
O terapeuta EMDR pode, portanto, identificar os eventos que foram armazenados de forma
disfuncional, que atrofiam e distorcem as percepções presentes do cliente, e auxiliar no
processamento destes, ajudando o cliente a metabolizar os estressores.
Em estudos controlados de TEPT (Transtorno de Estresse Pós-traumático), realizados com
pessoas que se submeteram à terapia EMDR, os indicadores de autoeficácia e bem-estar
aumentaram, enquanto que a depressão e a ansiedade diminuíram.
Embora em alguns casos, os efeitos possam surgir de modo imediato, em outras situações
pode demorar mais e, em alguns casos, pode não se aplicar. Enquanto pessoas, somos seres
complexos e muitas variáveis podem interferir, além da genética, da personalidade e dos
ganhos secundários que obtemos ao nos acomodar numa situação.
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