Terapia de casal
Adriana Cerato Germann – Psicóloga
individual e de casal, EMDR – Reprocessamento de Traumas; Terapia Sistêmica e
TCC – Cognitivo Comportamental 51 991688043
Fragmentos tirados do livro Casal em
foco- um olhar clínico, abrangente e
integrativo. Silvana Ricci Salomoni
Um casal é um sistema em movimento, com
possibilidades e limitações, encaixes e desencaixes, carregando padrões,
histórias, potenciais, limitações e crenças, traumas e suas repercussões.
O modo como cada ser humano vivenciou
suas relações familiares, nas diferentes fases do ciclo vital serve de base
para os relacionamentos adultos.
A terapia sistêmica aborda o espaço
intrapsíquico, interpessoal e intergeracional, mantendo olhares para as
relações do casal e para cada um deles em particular.
A possibilidade de treinar habilidades de
comunicação, de resolução de conflitos, solução de problemas e autorregulação
emocional permite um salto de maturidade na relação do casal.
Baseado na premissa de que cada um pode
manter o outro onde está, através de estímulos e respostas que vão criando
condicionamentos, é possível promover mudanças, estimulando tomada de
consciência e alterações nos padrões de interação.
Temos tendência a subestimar a importância
e o impacto das vivências infantis na qualidade da nossa vida adulta. Se essas vivências resultaram em estilos de
apego inseguro ansioso, inseguro evitativo ou mesmo desorganizado, podem criar
obstáculos muito difíceis de superar e promover a tendência à repetição.
A terapia, assim como a aprendizagem,
constrói novas redes neurais, promovendo a plasticidade necessária para se
estabelecer vínculos mais saudáveis para se relacionar amorosamente.
As representações mentais registradas a
partir das experiências infantis funcionam como crivos, moldando a forma
pessoal de relacionar-se na vida adulta, prevendo condutas e deduzindo
intenções. As experiências traumáticas
vivenciadas durante a vida interferem significativamente na capacidade de
relacionar-se de forma saudável, pois mudam o cérebro ao longo da vida.
A integração do córtex pré-frontal com o
sistema límbico resulta em bem estar emocional e bons relacionamentos. Para que isso se torne uma forma natural de
agir, é preciso cultivar a autorregulação, autoconhecimento e empatia humana, o
que favorece uma forma mais consciente de estar no mundo e de viver em
sociedade. Perceber como nos sentimos é
um importante ponto de partida.
Regulação emocional e apego parecem andar
de mãos dadas. Olhar nos olhos um do outro, revela interesse e reforça as
conexões emocionais, nos momentos em que se encontram mais fragilizados.
As experiências repetitivas tornam-se
codificadas em memória implícita sob a forma de expectativas. Posteriormente, organizam-se como modelos
mentais ou esquemas de apego, que servem para a criança formar um senso interno
de base segura no mundo.
A forma como a criança vive influirá nas
maneiras de enfrentar futuras situações de rejeição, separação e perda, já que
o comportamento de apego apresenta função biológica vital durante toda a
existência, influenciando padrões de afeto e relacionamentos na fase adulta.
O padrão de apego seguro facilita a
integração das diferentes experiências que a criança vive enquanto cresce,
desenvolvendo um sentido de si próprio coeso e centrado, em bases que favorecem
a regulação emocional e estilo de interação adequado ao longo do ciclo vital.
Um adulto com apego seguro não está
“vacinado” contra os sofrimentos que ocorrem a todos nós, os comuns ou os
extraordinários, porém tende a apresentar estratégias de enfrentamento das
dificuldades com boa segurança interior e capacidade de autorregulação
emocional. O estilo de apego seguro
permite aos parceiros conjugais a sensação de existir na ausência um do outro
ao mesmo tempo em que se percebem desfrutando a presença um do outro.
A pessoa com estilo de apego inseguro
ansioso evitativo vivenciou falta de disponibilidade e comprometimento emocional
no início de sua vida e reagiu a isso procurando reprimir suas necessidades e
evitando proximidade com figuras de apego emocional. Portanto, esta será uma
tendência marcante de conduta em seus relacionamentos conjugais. São pessoas
que evitam proximidade emocional com o parceiro, guardando distância nos
momentos em que o outro mais anseia por proximidade.
Alguém com estilo de apego inseguro
ansioso ambivalente tende a mostrar agarramento ansioso ao parceiro conjugal ,
podendo perseguir, sufocar emocionalmente e até mesmo ameaçar o outro caso ele
se afaste mais do que a pessoa consegue suportar. No entanto, ao estar próximo do ser amado,
demonstra dificuldade para usufruir a intimidade emocional com o outro.
A continuidade da relação tende a ser
muito penosa para quem partilha a vida com alguém sob apego inseguro ansioso
ambivalente. A pessoa com esse estilo
de apego confunde o outro com sua inconstância, provoca aumento de estresse com
a falta de estabilidade de afetos e mostra impedimentos na proximidade
emocional.
O apego desorganizado aparece com
freqüência em adultos que apresentam traumas precoces. Muitas dessas pessoas vivenciaram situação de
abuso continuado por suas figuras de apego primário.
Negligência ou maus tratos sofridos por
uma criança são desorganizadores. O
trauma rompe a linha natural de desenvolvimento infantil, encaminhando a
criança para riscos persistentes de desregulação.
O casal com um dos membros marcadamente
traumatizado vive situações e conseqüências que interferem de várias formas na
relação. A pessoa com trauma pode
apresentar muitos sintomas e limitações, incluindo doenças psicossomáticas e
dificuldades variadas até mesmo quando precisa resolver coisas cotidianas da
vida.
Os traumas de apego, quando reprocessados
costumam promover diferenças marcantes na vida.
O relacionamento conjugal pode ser
curativo, mas também pode ser tóxico. Eis a importância da terapia de casal.
“Passar do modo de luta pelo poder para o
empoderamento relacional significa que ambos tentam tirar o melhor de si em vez
de “melhorar” o outro”. Mona Fishbane.
A capacidade para lidar com frustrações,
emoções e relacionamentos faz muita diferença na forma de conduzir a vida
enquanto crescemos e na fase adulta.
Inteligência emocional pode ser entendida
como a capacidade de criar motivações para si próprio e persistir em um
objetivo apesar das dificuldades; controlar impulsos e saber aguardar pela
satisfação dos desejos; manter-se em bom estado de espírito e impedir que a
ansiedade interfira na capacidade de raciocínio, empatia e autoconfiança.
O mundo moderno da forma como está
constituído parece um convite para atitudes sem controle, e as pessoas
impulsivas precisam fazer um esforço enorme para resistir a tentações de toda
ordem.
Quem apresenta bom nível de inteligência
emocional é capaz de focar em si, nos demais e no entorno, segundo requeira a
situação, de forma flexível e concentrada.
Eleger com clareza as prioridades da vida
ajuda a ter bom êxito nos resultados quando eles demandam autocontrole.
A autogestão emocional permite o bom
gerenciamento de nossas emoções e a motivação concentrada nas metas que
definimos para nós mesmos, com boa capacidade de adaptação e iniciativa.
A palavra trauma nomeia sofrimento
psíquico. A terapia EMDR tem ajudado muitas pessoas a superarem eventos
difíceis da vida, transformando a si mesmas e as relações.
Além de alterar o funcionamento biológico
e psicológico dos indivíduos, os traumas também mexem constantemente com as
dinâmicas conjugais, familiares e sociais.
“No trauma o cérebro perde a capacidade de
distinguir o passado do presente e, como resultado, não consegue adaptar-se
para o futuro.” Robert Scaer
O trauma tem o potencial de afetar nosso
sentimento básico de estabilidade, segurança, confiança em nós mesmos, nos
demais e na vida em geral. As pessoas
traumatizadas desenvolvem crenças negativas e percebem seu horizonte
estreitar-se com a limitação de escolhas que julgam estar a seu alcance e ao
alcance dos demais.
A natureza traumática das experiências é
determinada pelos significados que a pessoa lhes atribui, e esses significados
são baseados em eventos negativos já vividos, especialmente no período da
infância, com toda a vulnerabilidade característica dessa fase. Assim, o trauma é um contínuo de variadas
experiências negativas de vida. (SCAER,2005).
As reações individuais frente a eventos
potencialmente traumáticos estão relacionadas com as experiências prévias da
pessoa. Ficar traumatizado ou não vai
depender da forma como o indivíduo se sente em relação à ameaça enfrentada, das
suas experiências de vida e do contexto em que o evento ocorreu.
“Muitas experiências de infância são
infundidas de um sentimento de impotência, falta de opção, perda de controle e
inadequação.”(SHAPIRO, 2007,p.77).
Nós nos relacionamos com as pessoas mais
próximas a partir de expectativas que estão muito ligadas ás nossas
experiências infantis, e isso ocorre de forma automática.
O tratamento de traumas pode libertar os
membros de um casal para a vivência de relações conjugais muito mais criativas,
com maiores possibilidades e menos impedimentos.
Processar traumas precoces que favoreçam
as relações de apego ou mesmo traumas mais tardios, resulta em maior
estabilidade e mais alternativas de ação, amplia as possibilidades de
renegociar pontos de atrito na relação de casal.
As memórias que carregamos são a base de
nossa percepção do mundo, incluindo as felizes e as mais difíceis. Entre estas,
existem as que foram processadas adaptativamente e as que permaneceram
armazenadas sob a forma de memórias traumáticas. Portanto, os traumas fazem parte de nossos
“óculos” usados para ver a vida e a partir deles nos relacionarmos com os
parceiros conjugais.
Os estilos de apego e comportamentos
interpessoais dentro de famílias, uma vez estabelecidos são autorreforçadores e
persistentes.
A família adaptativa tem fronteiras
adequadas favorecendo ligação e autonomia comparável ao apego seguro.
A família superenvolvida tem fronteiras
difusas, compatível com apegos ambivalentes.
A família desengajada, com suas ligações
tênues, está relacionada com apego evitativo.
A família caótica revela desorganização
nos apegos.
Relacionamentos familiares com apego
seguro facilitam o desenvolvimento saudável do sentido de pertencimento e de
autonomia de seus membros. Elementos
básicos para a formação e desenvolvimento da identidade.
O desejável é que na vida adulta a pessoa
seja relativamente autônoma no geral e capaz de desenvolver e manter
relacionamentos saudáveis. Com isso pode
rever o que for preciso no sentido de alterar o significado das vivências de
sofrimento, ou mesmo as que se revelam disfuncionais no presente de sua
vida. A pessoa pode alterar seu
funcionamento interior e mudar relacionamentos e atitudes por vontade própria,
buscando ajuda psicoterápica quando necessário, a ponto de poder lidar com os
fracassos, traumas e dificuldades de forma adulta.
Uma boa relação tem o poder de fornecer o
ambiente necessário para facilitar a autorregulação em situações de
necessidade, ativando um estilo de apego seguro que a pessoa eventualmente
tenha algum registro de haver vivenciado.
A pessoa que possui bons relacionamentos
está em vantagem, já que relações nutridoras resultam em melhor saúde física,
melhora da função imunológica e maior resistência ao estresse.
É preciso intenção (foco) e treino para
estarmos conectados sistemicamente com a vida.
O relacionamento conjugal saudável cria um
espaço especial para que os dois sigam no processo de diferenciação, contando
com o apoio um do outro, desde que consigam exercitar intimidade e autonomia
dentro da relação.
Muitas pesquisas nos mostram a importância
de uma relação conjugal estável, flexível e satisfatória para os dois, com
conseqüências positivas na qualidade de vida, nos índices de felicidade e na
saúde física do casal.
Regulação emocional permite que o indivíduo
mantenha uma janela de tolerância para o afeto, não se tornando extremamente
estimulado nem desestimulado e nem sobrecarregado e nem com as emoções
amortecidas.
A continuidade e o crescimento de um
relacionamento conjugal gratificante implica melhoria na intimidade. Isso requer autenticidade com autorrevelação
e aprofundamento no conhecimento do outro e na confiança mútua.
A sintonia com o outro, a confiança e a
intimidade estão na base da formação dos estilos de apego estabelecidos na
infância.
Casais em relacionamentos com pouca
confiança mútua apresentam taxas mais altas de mortalidade do que nos
casamentos com mais confiança.
Para estabelecer e fortalecer uma relação
empática com um companheiro, é preciso intenção e foco de intenção
compartilhado, o que inclui a sintonia física.
A empatia pode ser buscada e fortalecida no casal.
O relacionamento conjugal, por sua
natureza de proximidade, pode potencializar os sentimentos tanto de
pertencimento quanto de rejeição oriundos da infância e da adolescência . A
autopercepção e autorreflexão nos encaminham para um padrão preponderante de
honestidade e de humildade e nos afastam de falsos padrões de perfeição e de
invulnerabilidade.
As
diferenças podem enriquecer um relacionamento – tudo depende da forma como se
lida com elas.
Sem confiar em si próprio torna-se difícil
confiar no companheiro. A pessoa com apego inseguro que se une a alguém com
apego seguro pode aos poucos ir desenvolvendo mais segurança no vínculo. Mas, para que esse amor aconteça é preciso
cuidar da relação a dois, o que inclui o contato físico.
Diferenciação, maturidade e apego seguro,
quem se desenvolve de maneira sadia nesses aspectos está mais bem preparado
para administrar um relacionamento conjugal que seja gratificante para ambos.
Fishbane (2011) distingue três formas de
poder no casal: “poder sobre”, “poder para” e “poder com”.
O “poder sobre” inclui ameaças, violência
física, intimidação, humilhação, depreciação, dominação, indiferença e culpa.
O “poder para” diz respeito á
flexibilidade, capacidade reflexiva, responsabilidade, receptividade, regulação
emocional, diferenciação e respeito durante um conflito.
O
“poder com” inclui a responsabilidade relacional compartilhada, empatia,
aceitação de diferenças, cuidado, generosidade, reparação e perdão.
Casais em crise geralmente se enredam em
lutas de “poder sobre” o outro. Quando
um dos membros do casal se sente desregulado e frustrado por falta de empatia
do outro, pode recorrer às táticas de “poder sobre”.
O “poder com” envolve a capacidade de
cooperação e cuidados. “Poder para” e
“poder com” favorecem o encontro e as relações íntimas e evita que os dois usem
condutas de “poder sobre” o outro.
A diferenciaçao é um aspecto importante do
“poder para”. Alguém que já resolveu os problemas mais difíceis trazidos da
família de origem liberou recursos para o empoderamento relacional. Assim, pode lidar com as diferenças do
parceiro e manter respeito e generosidade mesmo que lhe cause incômodos.
À decepção no casamento podem seguir-se a
resignação e a falência da relação, ou então, pode seguir-se a reparação com
ajuda profissional. Nesse caso, será necessário a revisão e a alteração dos
papéis estabelecidos, a abertura da comunicação e da negociação, com revisão
dos limites éticos do relacionamento.
A reflexão nos ajuda a olhar para trás e
para dentro, para o que aconteceu.
Distância reflexiva e liberdade para assumir a responsabilidade pelas
ações e pelos sentimentos.
É importante que o casal reconheça seus
conflitos recorrentes e aprenda a buscar soluções com respeito e tolerância,
ainda que ocorram brigas. A resolução dos conflitos fortalece a intimidade e a
parceria quando a briga evolui de forma produtiva.
Brigar por questões do presente, ouvir e
refletir, pode-se usar a briga pra conhecer desejos e expectativas do outro.
Os reparos são atos simples como contar
uma piada, fazer um elogio, dar um aperto de mãos, fazer uma pergunta ou
dirigir a atenção do outro para alguma coisa boa que esteja acontecendo no
entorno. Reparos criam espaço para que o
companheiro que saiu da sua janela de tolerância possa autorregular-se com a ajuda
do parceiro.
Ser íntimo de alguém não significa
vivenciar uma conexão estática, mas, sim, poder oscilar entre conexão,
desconexão e reconexão com segurança e criatividade.
Os casais que parecem agir como
adversários em vez de amantes estão presos no que é conhecido, em termos
técnicos, como um estado absorvente de negatividade. Isso significa que a
probabilidade de entrarem nesse estado é maior que a probabilidade de saírem
dele. Em outras palavras, ficam estagnados.
Podemos ajudar os casais a perceberem que
as memórias implícitas que cada um carrega moldam a forma como percebem e
interpretam as ações um do outro.
Desconstruir o ciclo de reação com o casal
é o primeiro passo para a mudança.
A psicoterapia conjugal tem como alvo mais
do que resolver problemas. Busca ampliar
a compreensão e mudar padrões viciados e disfuncionais.
Buscar a integração interna, externa e com
o outro fortalece a resiliência do casal, pois gera mais criatividade e
flexibilidade para ambos e para a relação.
O terapeuta não trata um casal-objeto,
lida com dois indivíduos que julgam ter uma relação de casal problemática e que
confirmam essa relação atribuindo-lhe dificuldades mais ou menos definidas.
As intervenções terapêuticas podem salientar
as forças saudáveis do casal e promover mudança dos dois para estados mais
positivos.
Os dois podem ser estimulados a buscar
alternativas para solução dos problemas e melhora na comunicação. Espaço para desafiarmos significados
arraigados que emperram as mudanças desejadas.
Através da criação e do desenvolvimento de novas narrativas, ocorre o
fortalecimento da resiliência individual e conjugal.
Mais importante do que os problemas que os
casais apresentam são os impedimentos que carregam para resolve-los.
Nenhum comentário:
Postar um comentário